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A falta de médicos, o preconceito e corporativismo

Publicado em 27/05/2013 às 00:58

O anúncio feito recentemente pela presidenta Dilma sobre a possível vinda de 6 mil médicos estrangeiros para trabalhar em áreas absolutamente carentes do país foi recebido negativamente pelo Conselho Federal de Medicina. O governo pretende tomar a medida diante de uma dura realidade: O Brasil possui hoje um déficit de 168.424 médicos, e o Ministério da Saúde quer alcançar a meta de 2,7 médicos por mil habitantes, a mesma proporção do Reino Unido que, depois do Brasil, tem o maior sistema público de saúde orientado pela atenção básica do mundo.
 
Contamos atualmente com 1,8 médicos para cada grupo de mil habitantes, número inferior a países como Argentina (3,2), Espanha e Portugal (4). Um estudo realizado pelo IPEA apontou que 58,1% das pessoas destacam a falta de médicos como principal problema do SUS.
 
O mercado brasileiro oferece muitas possibilidades, o que faz com que os médicos optem por não trabalhar na atenção básica, e principalmente, queiram permanecer nos grandes centros. Dos 371.788 médicos brasileiros, 260.251 estão nas regiões Sul e Sudeste. Entre os anos de 2009 e 2010, foram criadas 19.361 vagas de primeiro empregos para médicos, sendo que, no mesmo período, foram graduados 13 mil profissionais, o que nos leva a concluir que boa parte dos egressos já tem pelo menos dois empregos formais no primeiro ano de trabalho.
 
O governo federal está preparando ações de médio e longo prazo para criar e ampliar vagas em cursos de medicina nos vazios de formação, bem como políticas de provimento e fixação de médicos onde existam maiores carências.
 
A estratégia mais urgente orientada pelo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, é que o Brasil se baseie em experiências de países como Canadá, Reino Unido e Austrália, que optaram pelo intercâmbio de profissionais estrangeiros como uma alternativa para suprir a necessidade de médicos, principalmente em áreas remotas.  Na Inglaterra, 40% dos profissionais foram atraídos de outros países. Os Estados Unidos contam com 25% de médicos estrangeiros, e o Canadá, com 22%. O Brasil estuda parcerias com diversos países, entre eles Portugal e Cuba.
 
Embora as entidades médicas tenham adotado uma postura defensiva e preconceituosa diante da possibilidade da vinda de médicos de Cuba para atuarem no Brasil, ao ponto de questionarem a qualidade dos profissionais cubanos, é importante que a sociedade brasileira esteja esclarecida a respeito do assunto: Cuba é reconhecida por grandes êxitos na medicina e na biotecnologia e possui 6,7 médicos por mil habitantes.
 
Segundo a New England Journal of Medicine, “o sistema de saúde cubano parece irreal. Há muitos médicos. Todo mundo tem um médico de família. Tudo é gratuito, totalmente gratuito. Apesar do fato de que Cuba dispõe de recursos limitados, seu sistema de saúde resolveu problemas que o nosso [dos EUA] não conseguiu resolver ainda. Cuba dispõe agora do dobro de médicos por habitante do que os EUA”.
 
Isso se reflete em grandes avanços no desenvolvimento de estudos para tratamentos revolucionários, como vacinas para câncer, hepatite B, cura do mal de Parkinson e da dengue.  Hoje, a indústria biotecnológica cubana tem registradas 1.200 patentes e comercializa medicamentos e vacinas em mais de 50 países. 
 
Não é momento para reações corporativistas e preconceituosas. É hora de aumentar o número de médicos e universalizar cada vez o atendimento em saúde da nossa população.

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