Portal da Cidade Cruzeiro do Oeste

Pesquisa aponta relação entre doença de Chagas e depressão

FIOCRUZ - Protozoário causador da doença pode desencadear uma desordem imunológica

Publicado em 02/06/2013 às 22:49

Receber o diagnóstico de uma enfermidade como a doença de Chagas pode causar mudanças na rotina, nos planos e no estado de espírito dos pacientes? Pode causar apatia e tristezas nos anos subsequentes ao diagnóstico da enfermidade?

Essas e outras perguntas relacionadas à doença começam a ser respondidas por pesquisadores da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) que desenvolveram estudo inédito identificando linhagens do protozoário Trypanosoma cruzi (causador da doença de Chagas), circulantes no Brasil, tipos 1 e 2, podem sim provocar desequilíbrio neuroquímico no paciente, resultando em associação biológica entre a doença e o quadro depressivo.

A constatação foi feita a partir do Laboratório de Biologia das Interações da Fiocruz, onde a equipe liderada pela pesquisadora Joseli Lannes identificou que o protozoário causador da doença pode desencadear uma desordem imunológica e neuroquímica associada ao quadro depressivo entre os pacientes.

A partir do estudo, a equipe de pesquisadores da Fiocruz concluiu que a mudança de comportamento registrada nos portadores da doença se dá “a partir da incerteza do destino e do elevado percentual de incurabilidade da doença, agravados pelo baixo nível socioeconômico predominante entre os portadores da enfermidade”.

Publicado na revista científica de referência Brain, Behavior and Immunity, o estudo, cuja autora principal é Glaucia Vilar-Pereira, derruba de certa forma a tese predominante até então na literatura médica de que o transtorno recorrente entre pacientes crônicos – e que levava à depressão – era motivado por fatores psicológicos. O estudo sugere, ainda, um tratamento combinado à base de drogas já disponíveis no mercado: benzonidazol e pentoxifilina.

Segundo a Fiocruz, a ideia que deu origem à pesquisa surgiu quando Joseli Lannes realizava experimentos sobre danos cardíacos com camundongos e, ao longo do estudo, notou que alguns dos animais eram mais apáticos.

Na avaliação de Joseli uma marca inconfundível da depressão é a desistência do paciente - neste caso, do animal. “Para identificar o que estava acontecendo, utilizamos dois grupos de camundongos. Cada grupo foi infectado com cepas tipo 1 e tipo 2 de Tripanosoma cruzi. Constatamos que só o primeiro grupo apresentava imobilidade e desistência quando submetido a testes”.

Sinal preliminar

Para a pesquisadora, esse “era um sinal preliminar de que a depressão, na doença de Chagas, poderia não ser um processo psicossomático. Afinal, o animal não tem consciência da doença ou de sua condição social. Os dados indicariam, enfim, que o processo não é associado ao sickness behavior mas, de fato, à depressão”, esclarece.

Fonte:

Deixe seu comentário